Entrevista com Daniela Cardoso Rêgo & Manoela Vilela Ferraz Silva Dueñas, OLAM Agrícola Ltda (Portuguese)

Daniela Cardoso Rêgo, Gerente | licenciada Q Arábica Grader, OLAM Agrícola Ltda.

Daniela Cardoso Rêgo, Gerente | licenciada Q Arábica Grader, OLAM Agrícola Ltda.

Manoela Vilela Ferraz Silva Dueñas, Sustentabilidade, OLAM Agrícola Ltda.

Manoela Vilela Ferraz Silva Dueñas, Sustentabilidade, OLAM Agrícola Ltda.

Olá! Qual é o seu nome, qual é a sua posição, e onde você trabalha?

Meu nome é Manoela Dueñas, analista de sustentabilidade na Olam Coffee Brasil.

Meu nome é Daniela Cardoso Rego, eu sou a gerente e Q Arabica Grader na Olam Coffee Brasil.

Descreva sua história no café. Quais passos você tomou para saber fazer o que faz hoje?

Manoela: Comecei na área de café em março de 2018 como estagiária na divisão de café especial da Olam. Tudo que conheço sobre o café é graças às minhas experiências diretas no meu trabalho.

Daniela: Fui contratada em 2005 pela Studen & CO, uma companhia com ações Austríacas e Bósnias em busca de uma alternativa à disputa da OMC, Organização Mundial do Comércio, (WTO) sobre subsídios europeus aos produtores de açúcar.

O objetivo era ter um escritório e atividades estabelecidas no Brasil. Isso foi rapidamente alcançado, e o papel de gerente pôde ser ampliado com um novo produto/mercadoria. Entre as opções, destacou-se o café. Não por nada, meu pai, conhecido comerciante de açúcar brasileiro, já havia feito parte do mercado de comércio de café tempos atrás, o que enriqueceu nossa infância com visitas e férias frequentes em fazendas de café.

Em dezembro de 2005, tive minha estreia no café, comprando meu primeiro container a ser enviado para os Balcãs. A empresa já tinha expressiva presença na distribuição de alimentos e, naturalmente, o café passou a ser vendido na região, com 10 containers facilmente adicionados aos livros por mês. Tornei-me viciada nos afazeres do negócio e amante de café.

No início de 2019 fui oferecida a posição de gerente de café especial na Olam e o desafio era reestruturar o departamento, manter a fluidez nas operações, dar andamento aos projetos, aumentar o volume e, o melhor desafio possível, tornar-me Q Arabica Grader. O café se tornou oxigênio para os meus sentidos.

A IWCA Brasil na Semana Internacional do Café em 2019

A IWCA Brasil na Semana Internacional do Café em 2019

Daniela, como foi sua experiência do Q grader? Que aspectos da experiência sensorial te deixaram tão animada?

Daniela: Uma surpresa alucinante! Indo cegamente da fragrância, aroma, textura, e sabor que tocam o paladar até o sabor residual - uma jornada que quero reviver sempre que possível. A animação surge da combinação de estágios em caminho à descrição de uma xicara de café, e da riqueza do ritual, não tenho certeza que seja capaz de expressar como os sentidos podem ser traduzidos às palavras.

O que posso afirmar é que as sessões de prova das quais tive a chance de fazer parte antes do Q, foram enriquecidas em minha memória depois de passar pelos dias do curso e das provas. Tirei o Q no Brasil com café de diferentes origens, apresentados ao longo da semana. A diversidade e complexidade das xícaras influenciadas pela geografia, clima, práticas agrícolas, amor e até mesmo pelas condições emocionais do aluno do Q ainda devem ser cientificamente compreendidas.

Café Delas no Japão na Imperfect Cafe.

Café Delas no Japão na Imperfect Cafe.

O que você mais gosta no seu trabalho? Sobre café? Sobre o seu país?

Manoela: Eu me formei em engenharia florestal e sempre quis trabalhar na área de sustentabilidade. Mudei do departamento de café especial da Olam para o departamento de sustentabilidade em janeiro do ano passado. Agora tenho contato direto com os produtores e aprendo muito com eles. O que mais gosto no meu trabalho é o impacto positivo, que ele tem na vida dos produtores. Nosso projeto Café Delas é um ótimo exemplo disso. Compramos café especial de mulheres produtoras e investimos 3 centavos do dólar por libra-peso para cada venda deste café (Café Delas) em iniciativas, que promovem a igualdade de gênero e fortalecem as mulheres no campo. É incrível conversar com produtores, que fizeram parte de nossas ações e ver como tiveram um grande impacto: elas se sentem mais motivadas, dispostas a assumir uma posição de liderança em sua produção de café (falando sobre fazenda de família). O que eu mais gosto no café é o amor que os produtores têm com o que produz. O atendimento, o amor que eles têm é inexplicável. Ser capaz de transmitir esse atendimento e essa história aos clientes. Para transmitir como o café foi feito e como o produtor começou. É realmente gratificante.

Daniela: Pessoas e as experiências trocadas; café, em si — o sabor e as emoções despertadas por ele; O Brasil oferece a mais ampla mistura de pessoas, emoções e experiências. Eu amo esse país!

Amei isso, a mais ampla mistura de pessoas e experiências! Qual parte da sua cultura que você acha reúne esses dois tão bem?

Daniela: O Brasil é a nação com a maior diversidade social — raça, meio de vida, cultura, classes sociais, e isso é visível quando se visita as regiões produtoras, e também o escritório em Santos, a sede do Olam Brasil. A cidade foi constituída inicialmente por portugueses, espanhóis, indígenas, negros e seus descendentes. No início do século XIX, a população recebeu imigrantes europeus, principalmente portugueses, espanhóis, italianos, sírios e libaneses, tudo isso é incorporado às atividades do porto e comércio de café. Essa mistura e aceitação das diferenças são essenciais para o desenvolvimento, o que favorece a liberdade e a equidade de qualquer tipo. Contudo, ainda temos um longo caminho a percorrer, mas a jornada é colorida.

Treinamento agrícola através de um projeto de sustentabilidade, no qual os jovens são incluídos.

Treinamento agrícola através de um projeto de sustentabilidade, no qual os jovens são incluídos.

Você pode falar sobre o começo do Cafe Delas? Você explica que há um benefício econômico no programa, uma espécie de preço premium pago para as produtoras. Existem outros aspectos do programa? Você realiza workshops regulares ou sessões de treinamento?

Manoela: Nossas iniciativas em igualdade de gênero começaram em 2016 no estado de Paraná com um projeto chamado “Flor do Café”, onde apoiamos as mulheres produtoras com treinamentos e workshops. Também com ações ambientais, como análise de água para potabilidade e doação de tratamento de esgoto doméstico.

Durante o projeto, percebemos que as mulheres são super detalhistas e orientadas, com alto padrão de qualidade. Então, em março de 2018, criamos o Café Delas = um café especial produzido por mulheres.

O Café Delas é 100% rastreável até o nível da fazenda. Dá transparência, mas também visibilidade do trabalho das mulheres para o cliente. O café é totalmente faturado por mulheres e pago diretamente para a conta bancária delas. Essas produtoras devem trabalhar com café e desempenhar um papel relevante na fazenda. Para cada venda do Café Delas, OLAM investe 3 centavos por libra-peso em iniciativas que promovam a igualdade de gênero e capacitem as mulheres no campo.

Iniciativas são workshops (por exemplo, treinamentos sobre qualidade do café) encontros e eventos para mulheres produtoras.

Descreva a sua equipe dentro do seu trabalho. Com quem você trabalha? A quem você pode pedir ajuda, suporte ou treinamento? Existem líderes femininas em sua empresa?

Manoela: Trabalho principalmente com a equipe de sustentabilidade, frequentemente também com a equipe de café especial e comercial. A equipe de sustentabilidade sempre se ajuda e nós compartilhamos nossas experiências e aprendizados. Tenho o apoio total da minha supervisora ​​Ana Carolina e o apoio da nossa gerente Taciana Bolzan sempre que preciso, como também o apoio de outros departamentos. Quando comecei, aprendi muito com a equipe da divisão de café especial. Mas não apenas com eles como também com a equipe comercial e de logística, enfim... posso dizer que sempre tive o apoio necessário.

Daniela: Quando comecei na OLAM, eu achava que a minha equipe eram as pessoas que eu tinha contato direto no escritório. Não demorou muito para perceber que não apenas toda a operação no Brasil como todos os outros comerciantes e Qs ao redor do mundo faziam parte de uma mesma equipe, da qual eu fazia parte. Os Olamites dão apoio uns aos outros. Infelizmente, não há muitas mulheres líderes, mas isso chegará com o tempo.

E qual é o seu papel na OLAM com parte do programa? É uma iniciativa maior da qual mais parceiros da OLAM fazem parte?

Manoela: Eu gerencio as vendas e os custos do projeto, o material de marketing e as ações que realizamos. Sou responsável pelas ações junto com Ana Carolina Abreu, Ana Carolina Puga e Taciana Bolzan.

Catarina e Maria, produtoras que contribuem para os lotes do Café Delas.

Catarina e Maria, produtoras que contribuem para os lotes do Café Delas.

Houve momentos importantes em sua carreira que te motivaram a continuar trabalhando no café?

Manoela: Sim. Não é um evento específico, mas continuando a ver os resultados de nossas ações de sustentabilidade. Às vezes, em uma conversa informal com o produtor, podemos ver que estamos seguindo o caminho certo.

Daniela: Cada respiro é um momento importante, especialmente no trabalho. Os momentos em que participei contribuindo para o bem-estar de outros foram os que mais me motivaram. Trabalhando para lançar o projeto Café Delas e o Clube Olam, amplamente apresentados na Ásia, e o contato com os produtores foram crucias para a mudança expressiva no jeito que eu vejo e aprecio as pessoas hoje.

Helena, uma produtora que contribui para os lotes do Cafe Delas, fazendo o curso de classificação e degustação de café.

Helena, uma produtora que contribui para os lotes do Cafe Delas, fazendo o curso de classificação e degustação de café.

O que você acha da indústria cafeeira nos países que produzem café para os países que consomem café? Quais são os desafios e sucessos de todas as mulheres que trabalham no café?

Manoela: Acredito, que estamos todos conectados pelo amor ao café. O cliente final na cafeteria tomando café com um amigo, o produtor/a diariamente cuidando da sua produção para produzir cafés de qualidade. Os consumidores querem cada vez mais saber de onde vem o café. Valorizar este trabalho é muito importante.

Os desafios para as mulheres são muitos. Ainda falta acesso a oportunidades e tomadas de decisões importantes, por exemplo. Mas é incrível o quanto mulheres estão se unindo e descobrindo seu valor. Este trabalho não é fácil, mas é gratificante. Os jovens são os principais agentes de mudança, e são eles que nos motivam cada vez mais para um dia mudarmos o cenário atual e realmente ter as mesmas oportunidades em todo o setor cafeeiro.

Daniela: São mais de dois bilhões de xícaras de café consumidas no mundo todos os dias. O maior consumo está nos países ricos, enquanto noventa por cento da produção nos países em desenvolvimento. A demanda de cafés certificados e produzidos por mulheres nos países ricos ajuda a nortear o ritmo do desenvolvimento e sucesso das mulheres na produção e educação das próximas gerações no campo. Educaçao é, provavelmente, o desafio e a chave para o sucesso.

Você acha que muitos torrefadores e compradores de café verde estão empolgados com essa iniciativa de igualdade de gênero? As pessoas perguntam sobre o programa ou como os resultados afetam as mulheres nas comunidades onde vocês trabalham?

Manoela: Sim! E isso me deixa muito feliz, os clientes estão cada vez mais interessados ​​neste tema. E eles querem entender o processo melhor, perguntam sobre as ações, sobre o impacto das ações e promovem o projeto e o trabalho das mulheres para seu cliente final.

Workshop hospedado por Café Delas de classificação de café.

Workshop hospedado por Café Delas de classificação de café.

Obrigada, Manoela e Daniela!

Entrevista traduzida por Roberta Duarte.